TrancaRua
Sunday, November 26, 2006
Honra aos bons
(Homenagem do meu pai ao Julien)
A morte prematura do Julien foi uma grande perda porque o Julien foi uma boa pessoa. Elevado, amigo, solidário entre os seres humanos. Através do tempo, formei esta firme opinião a seu respeito: gente boa, sangue bom. O mundo precisa muito de gente assim, num universo impregnado de ignorância e brutalidade.
O Julien era um bom filho da humanidade. Mas, suas qualidades não foram suficientes para impedir que fosse enredando-se numa teia obscura e insidiosa de acontecimentos, sem que ele se apercebesse e pudesse reagir e interrompendo, abruptamente, uma existência que poderia ser de contribuições.
Tuesday, March 08, 2005
Carla - Diario de Viagem no Peru
Voltei de férias essa semana, fui ao Peru e Bolívia, visitei La Paz e Copacabana na Bolivia e Cusco (Machu Pichu) e Puno no Peru. Fiquei encantada, as ruínas e a riqueza de detalhes das histórias da cultura inca são incríveis. A coisa era tão pujante que nem mesmo os espanhóis com sua catequese fulminante conseguiram extirpar tudo o que os indios construíram por lá. Cusco (o umbigo do mundo) é muito bonita, inclusive as partes construídas no período colonial, igrejas etc. E Machu Pichu é realmente um lugar perdido no tempo-espaço. Pena que é entupido de turistas: americanos, japoneses com suas handycam e famílias brasileiras barulhentas. O Lago Titicaca (Puma de Pedra) é um mar no meio do continente, com um espelho d'água a perder de vista em alguns pontos, transparente e gelado, mas lindo. Nessa época o clima é instável, no dia em que fui à Isla del Sol, a mais importante e grande do lago, choveu granizo e depois abriu um solzinho delicioso. A história do início da civilização inca tem um paralelo com noé e a arca, os homens viviam em harmonia com os bichos, especialmente os pumas, mas começam a desrespeitar esses bichos e as divindades. Então, el cielo lloró, ou seja, começa um dilúvio onde só sobra no mundo o casal dos primeiros Incas e esse dilúvio é que cria o Titicaca. Por todo o lado, as pessoas são indios, não tem negros ou brancos, exceto uns pouquíssimos estrangeiros vivendo em La Paz e os turistões. As cholas são reais, aquelas mulheres gordas, com duas longas tranças e chapeuzinhos, carregando meninos ou fardos de gravetos naquelas trouxas coloridíssimas nas costas. Parece que o tempo parou para algumas pessoas, o que não impede que em todos os lugares haja cafés internet e que as pessoas falem muito bem a lingua do dinheiro.
Monday, March 22, 2004
Big Brother e concentração de renda
Pedro Alvim
Excelente treino pra gerente de pessoal que demite geral: votar no Big Brother. Quem será o próximo a ir pro olho da rua? Vc?
Num país com a pior e mais vergonhosa distribuição de renda do mundo, onde a saída para boa parte da população é o tráfico, a Igreja Evangélica, empregos de salário de fome ou a vala, e uma minoria ridícula papa tudo por dinheiro e fica com a riqueza gerada por todos, o Big Brother é uma vergonha.
Senão vejamos o que o didático programa ensina:
1. a escolher quem vai pro olho da rua, uma piada sádica: milhares de telespectadores desempregados, subempregados e subassalariados fuzilando big brothers no paredão (a la justiça do tráfico, só falta chamar o paredão de microondas ou churrasquinho e o escolhido de Tim Lopes).
2. que as saídas para uma situação de privação de liberdade só podem ser individuais, nunca coletivas e democráticas (paredão e democracia não rimam).
3. Que só um ganha e todos os outros, inclusive os milhões de telespectadores, se danam no final.
É, não é de se estranhar o sucesso do Big Brother no Brasil: todos pro olho da rua, com o voto do telerruminador, depois de confinados e submetidos a torturas e a exposição pública humilhante, enquanto apenas um "felizardo" ganha: não o mais pobre e/ou caipira e/ou tragicômico que geralmente leva a bolada (de onde vem tanto dinheiro num país de tantos pobres?) e se torna parte da minoria rica que pisa na cabeça do povo, mas sim o verdadeiro Big Brother, o Azul Marinho da música do Be Negão "Dança do Patinho", a Vênus Platinada Global e seus anunciantes, esses sim contribuindo pra que a vida de muitos no Brasil acabe literalmente no paredão de execuções sumárias pela polícia, pelo crime "orgainzado", pelos grupos de extermínio, ou nos paredões da miséria, da exclusão social, da queda de remuneração, da vida que poderia ter sido e não foi, aliás uma boa definição pra o que significa viver nesse país.
Friday, February 27, 2004
STARBUCKS, MOBY DICK E O PAGANISMO
Nao sou o primeiro a sentir o chamado pagao do simbolo da mega-cadeia de cafeterias americana Starbucks.
A figura no logo, de expressao e tiara estrelada algo diabolicos, trata-se de uma sereia de dois rabos. Sereias nas suas representacoes inocentes hodiernas sao descaracterizadas. Desde a antiguidade elas sao comedoras de homens, prostitutas de netuno, quimeras sexuais com grandes yonis bacalhonescos. No logo, o gesto de apartar as caudas expondo a genitalia lembra as representacoes de fertilidade e seducao femininas em culturas antigas. O advento das grandes religioes absorveu, sublimou (vide virgem) ou suprimiu este elo da mulher com o mundo selvagem atraves de sua sexualidade. A sugestao no gesto da sereia tambem tambem nao resistiu ao puritanismo americano e o simbolo original da Starbucks foi velado pelos seus proprietarios. Este era o logo da primeira loja, aberta em Seattle:
Jah o nome da marca foi emprestado aa um ordenanca do capitao Ahab, em Moby Dick, um livro maldito. O proprio autor tinha consciencia disto apos escreve-lo. O genio da obra prima do Herman Meville esta no comentario cabalistico dele sobre o deus cristao. O deus baleia nao eh soh "omnipresente mas imortal". "Lancas e espinhos cravadas nos flancos, ele vai nadando, imaculado." Ja se falou que o deus baleia do livro eh vingativo e sanguinario como o deus do velho testamento, mas eu fico com uma das vozes de Meville no livro, a do doutor-a-bordo um agnostico que diz que: "... o que voces tomam por malicia na baleia branca eh, na verdade, apenas sua onisciencia". Nunca o tendo visto alguns baleeiros no livro duvidam de sua existencia. Ishmael, o narrador associa a visao do deus baleia, poeticamente, "aos abismos inumanos e imensidoes do univreso" e "ao arco-iris incolor do ateismo".
No capitulo 113 (The Forge), Ahab batiza um arpao destinado aa Moby Dick. Untando o ferro com o sangue dos seus arpoadores pagaos ele goza da formula batismal: "Ego non baptizo te in nomine patris," ele diz "sed nomine diaboli" (Nao te batizo em nome do pai, mas em nome do demo!).
Uma tese de semiologia poderia ir muito mais longe q'uestas minhas viagens, mas provavelmente seria muito chata. Por outro lado a maioria dos consumidores de cafe, dos pedestres habituais que passam debaixo das placas com os logos, nao esta nem ai pra quaisquer viagens. Estes, veem apenas uma marca, cafe com leite por 2 dolares, lojas abrindo em areas urbanas renovadas. Teem todas suas razoes para C&A (Cagar e Andar) para toda o simbolismo. Intuem que a marca esta cumprindo sua missao institucional: tornar-se onipresente. A sereia esta em toda parte. E assusta os pobres, que nao gostam qdo abre uma Starbucks (ou mercadinho de produtos organicos) em sua vizinhanca pois isto significa que os yuppies estao chegando e junto com eles a inflacao nos precos dos alugueis.
A medida que a loja vai s'espalhando mundo afora, na sua trajetoria inexoravel ao absoluto, vai substituindo a percepcao que outras marcas americanas ocupam no imaginario coletivo mundial, que associa o capitalismo e os Estados Unidos ao mal. De fato, a quimerinha de dois rabos eh muito mais interessante que o M do Macdnonalds, cai bem como simbolo deste capitalismo pagao que vem para barbarizar com tradicoes, particularismos e cafezinhos de esquina.
Tuesday, February 24, 2004
Daniel MV faz um remendo ao meu comentario sobre a capa do disco exposta abaixo.
"A tratamento da pintura da capa realmente lembra o Hundertwasser, com a diferença do conteúdo:
enquanto aqui é totalmente urbano (apoteose de sinais) com o pintor austríaco é a Natureza quem toma conta do mundo!"
Falando em apoteose, acabei me esquecendo de avisar que a Carla estaria na ala dos retirantes da escola de samba Imperio Serrano.
Monday, February 16, 2004
Estou ouvindo o novo disco do Radiohead - Hail to the thief. Consegue ser ainda melhor que os primeiros. Eh poesia cantada, sombria, dissonante.
Induz reflexao errante, levitacao sobre campos nublados. Esporadicamente o campo veludo se liquefaz num lirismo que nos afoga por alguns minutos e entao nos expele ao espaco de novo. A musica "I will" eh lindissima.
A capa do disco (acima) lembra um pouco uma pintura do Hundertwasser, austriaco maluquete que, alem de um puta pintor, tambem era arquiteto e filosofo pastoral. Fui apresentado a ele pelo Danivalente, agora (re)conhecido como Daniel MV la nas bandas da Catalunha. Recomendo visitas aos sitios de ambos.
Wednesday, February 04, 2004
Obrigado pelos artigos e comentarios de todos os lados.
Estou devendo uma replica ao editorial do Le Monde que o Anjo45 me mandou. Ja esta na fornalha mental, mas agora o tempo e curto.
Peguei a maior nevasca da minha vida aqui, semana passada. O auge rolou quando eu largava o batente na quarta. Silencio e desolacao na floresta de cimento. A neve abafa os sons e os bichos urbanos ficam escondidos.
Passei no hipermercado Safeway e era o unico cliente. A caixa, negra e pobre, com unhas de meia polegada, roxas, gostou do meu nome quando o leu no cartao. Disse que botaria meu nome no bebe dela - Fonseeca. Nao e incomum que os afro-americanos, buscando dar nomes autenticamente africanos aos seus rebentos, inventem coisas como Jaqueefa, Taquaia e Shaquille. E o povao no Brasil, quer mesmo eh ser americano, vide nossos Clebersons, Joilsons e Kenedys.
Fui levar os suprimentos para minha noiva. Tomei um tombo no caminho e quebrei uma das tres aguas com gas Perrier sabor limao que havia comprado. Foram uns bons 10 minutos na nevasca ate que conseguisse recolher todos os cacos pontudos dispersos na neve (alguem poderia passar por ali e se furar). O Hobbit hole onde mora minha donzela estava com a entrada entupida de neve. No dia seguinte um sol anemico foi parido arranhado pelos galhos secos das arvores. As ruas foram emplastradas de um caldo negro. E toda agua que foi escorrendo pelas calcadas durante o dia congelou aa noite tornando entao a travessia um holliday on ice sininstro. Como as temperaturas ainda sao as mais baixas dos ultimos 30 anos, mesmo com o sol dos ultmos dias o ringue de patinacao resistiu. Uma conhecida acabou de se estatelar e quebrou a perna em varios pontos. No apice da estacao, nao eh bom ser idoso por aqui. O clima nao me incomoda tanto, eh como estar em lugar selvagem, onde a luta pela sobrevivencia eh mais evidente.
Thursday, January 29, 2004
Beleza ! Um pouco de polemica sempre ajuda a aumentar a frequencia no "boteco virtual" do TrancaRua.
Aproveito entao para brinda-los com um novo item no "receituario neoliberal", que inventei hoje, a partir de sobras na geladeira.
LASANHA MEXICANA
igredientes:
- um saco de tortilhas (tipo doritos, mas se encontrar a assada de milho branco eh sempre melhor)
- uma xicara de queijo mozzarela e cheddar (ou prato) misturados em tiras
- uma xicara de salsa (um molho a campanha mexicano com mais tomates e molho de tom. q o resto)
- 1/4 de lata de milho e 1/4 de vidrinho de azeitonas pretas em pedacos (para serem misturados a salsa)
- caso queira a versao carnivora, adicionar aa salsa 200 gramas de carne moida refogada ou presunto picado
- parmezao, azeite e basilico em doses discretas
direcoes:
- misture a salsa com o milho e a azeitona (e a carne ou o presunto, na versao carnivora). a mistura deve ficar molhadinha com predominancia do molho de tomate. cubra o fundo de uma forma media com as tortilhas e cubra-as com o molho e a mistura de queijos. faca mais duas camadas. adicione o parmezao na camada superior dos queijos, coloque num forninho eletrico por 10 min a 280 graus ate que o queijo gratine. salpique azeite e polvilhe umas folhinhas de basilico por cima e... voila ! Gostoso, barato e nutritivo.
Saturday, January 24, 2004
Minha amiga Rosa, Mexicana valorosa, garconete no Grill, reporter e mestranda em Jornalismo trouxe trouxe a biografia do Che ao restaurante domingo passado. Ficamos de conversar mais qdo ela terminar o livro.
O Che eh um personagem interessante. Proveniente de familia de classe alta, quando jovem foi uma especie de beatnik latino-americano. Depois da revolucao cubana acabou nao se adaptando a administracao comunista e foi lutar no Congo. Voltou entao a peregrinar pela America do Sul pregando o foquismo. Morreu "de morte matada", na selva boliviana, entregue pelos proprios camponeses que tentava doutrinar. Ja o Fidel, me repugna.
Fidel (Alejandro) Castro (Ruz), completou no inicio de janeiro 45 anos como primeiro e unico mandatario de Cuba. Trata-se do mais antigo ditador em atividade no mundo. Merece um verbete no livro dos recordes. A abertura politica da URSS nas redeas de Gorbatchev, em meados dos anos 80 e a posterior derrocada do regime comunista, em 1991, com o consequente corte da substancial ajuda sovietica de U$ 6 bilhes anuais intensificou seriamente a crise cubana. Muita gente previu a queda de Fidel e de seu regime ou o fim de suas pretensoes de mandar.
Passados 45 anos de mando, o velho ainda segura-se no poder. A infeliz Cuba real, muito diferente da mitologica criada pela maquina ideologica da esquerda latina eh uma ilha de privacoes. Pais onde nao ha grande desigualdade de renda, pois sao todos igualmente pobres. Mantida sob o severo (e constante) sistema de racionamentos de energia, combustivel, alimentacao e vestuario. Sobrevive agora, em larga escala, dos dolares ianques remetidos pelos exilados que vivem na Florida, quase dois milhoes de cubanos (cerca de 20% da populacao da ilha) que preferiram (e preferem) viver em pais estranho aa subordinarem-se a uma ditadura de um homem e um Partido. Outro mito difundido eh o de que, desde a revolucao, as taxas de analfabetismo e mortalidade infantil sao muito baixas. Esta logicamente correto, omitindo-se o fato que as taxas de antes da revolucao eram quase tao baixas. Balnearios proximos, como Costa Rica e Barbados, concentraram-se em suas vantagens comparativas, nao tem um programa espacial, mas uma renda per-capita cerca de 20 vezes maior que a cubana. O Haiti e congeneres, estao empesteados por ditaduras militares de direita e administracoes autoctones corruptas.
Para manter sua ditadura do proletariado tropical, Fidel Castro desenvolveu um aparelho de repressao ubiquo na ilha. Na verdade, desde 8 de janeiro de 1959, quando entrou vitorioso em Havana prometendo ao povo pao e liberdade, o Comandante, amparado na oligarquia do Partido Comunista cubano, tem como resposta aos que nao se curvam a sua tirania sinistros processos de expurgo, execucoes, torturas e prisoes em campos de concentracao e de trabalhos forcados. Nestes 45 anos de poder totalitario, Fidel eh responsavel pelo desaparecimento e morte de quase 80 mil pessoas*, anulando, moto-proprio, os que tentam exercer direitos a livre expressao, de opiniao, de associacao e de reunio.
* Dados disponiveis em varias organizacoes incluindo a ONU. Estao consolidados no Livro Negro do Comunismo, Bertrand Brasil, Rio, 1999.
Wednesday, January 21, 2004
Joseph Stiglitz, o autor do livro "Globalization and its discontents" decepcionou o Foro Social na India. O tom de sua palestra nao foi o de exortacao panfletaria que domina o congresso. Disse que a gobalizacao pode ser usada a favor dos pobres, elogiou o lento mas consistente progresso da OMC e para comocao da plateia arrematou que "a abertura de mercados pode ajudar no crescimento e na reducao da pobreza como aconteceu no sudeste asiatico".
Stiglitz lembrou, como eu algumas vezes neste blog, que tambem ha grande resistencia aa globalizacao nos paises ricos, o que eh uma prova empirica que este processo nao existe em beneficio exclusivo destes paises e em detrimento dos pobres. - "Nos EUA, diziam que ficariamos com os melhores empregos. Eles nao contavam com o fato de que tambem podiam ser superados por um desempenho melhor, como o da India (em alguns setores de software)". Mais murmurios na plateia.
Mas quem realmente leu alguma coisa do Stiglitz sabe que o foco da critica dele recai sobre a ineficiencia e insensibilidade das megaburocracias internacionais como o Banco Mundial e o FMI, que tendem a aplicar as mesmas receitas economicas para paises com historias e culturas completamente dispares. Stiglitz acoita o consenso "duro" de Washington. A maioria dos antiglobalistas se restringiu a uma "leitura" da capa do "Globalization...", labaredas vermelhas sobre fundo negro, titulo impactante. Esta mania da esquerda contemporanea de fazer interpretacoes simbolicas e largar o texto objetivo de lado nao e recente. E um efeito colateral do estruturalismo e de certas leituras marxistas aa francesa. Transformaram o Espinosa em Sandinista, misturaram Marx com Jesus Cristo.
Bom eles tem certa razao. Nao temos controle sobre interpretacoes (acrescento - e sobre as fantasias loucas dos homens). Ninguem eh dono da verdadeira interpretacao dos textos destes autores que estou citando. Ninguem e dono da verdade, mas, pera um pouco, que ha uma melhor interpretacao ha - uma verdade mais verdadeira. Pontifica meu amigo Rodrigo Zeidan: a navalha de Occam ainda e um dos melhores criterios quando se trata de escolher entre teorias (ao menos fora da ciencia pura). Se temos um autor vivo para confirmar a interpretacao mais correta de uma obra, ainda melhor. Ainda bem que o Stiglitz foi ao forum reclamar suas ideias.
Um apendice. A outra conferencista da mesa, filha da Conceicao Tavares, veio representando sua mae a altura, carregando uma cartucheira de qualificacoes e improperios. Contrabalancou o Stiglitz. Fez a plateia sentir-se em casa, no conforto dos seus dogmas. Entre outras soltou: "O neoliberalismo comanda o governo Lula". Provavelmente esta repetindo o que ouviu em casa. (A galera da Conceicao esta puta pq nao chegou ao poder e ve o bom senso do Palocismo como um obstaculo as suas ambicoes niilistas).
Tuesday, January 20, 2004
Curdos abaixo de zero
Hoje, apos "printar meu ponto" no computador para sair, vou comer um pedaco de pizza na rua 18 que e uma das concentracoes bohemias do DC e fica a uma quadra do "Grill". O guardanapeiro do Pizza Mart - a pizza de lei da madrugada - foi ex-beque do Botafogo. Para provar, novamente ele saca de sua carteira uma foto amarelada dele uniformizado em campo. Me diz novamente que Pele tinha medo dele, pois seu estilo era "da roca" mesmo. E vai dizendo sacanagens incompreensiveis em portingles para as americanas, acho que para tirar uma onda comigo. Recebo sempre uns vinte guardanapos dele e um aperto de mao de alicate. Ele eh um velhote meio chato. Enquanto comia minha fatia jumbo pingando gordura comecamos a conversar com um casal de Curdos. Eles resistiram em definir sua regiao de origem de acordo com o registro da ONU mas acabaram liberando que sao do sul da Turquia. Eles perguntaram de onde eramos. Perguntei a eles qual era a religiao majoritaria entre os curdos. De acordo com o que eles me disseram a religiao islamica dominou uma tradicao mais antiga, que eles consideram a sua religiao original. Sem vinculo com o texto biblico, sem profeta ou deus incorporado, esta religiao tem um nome inpronunciavel. Os deuses dos antigos Curdos sao o Sol, a Lua e o Pica Pau que tem as cores da terra. Eles tambem me disseram que o Sultao Saladino, aquele que retomou Jerusalem dos cruzados era Curdo e que, portanto, eles salvaram a "retaguarda do Islao" (traducao educada), ato jamais retribuido. Fora do Pizza Mart a noite esta gelada e estrelada, mas nao quero nem ficar olhando muito para cima pois abre-se uma nesga entre o casaco e o cachecol e o vento s'esgueira perigosamente proximo a minha barriga confortavel. Sao 12 quadras ate minha casinha aquecida em Mount Pleasant. No caminho, os cascos de madeira do meu sapato reverberam tlectonica e regularmente nos becos. Me surpreende a quantidade de meninas andando sozinhas para casa a esta hora, neste frio. Admiro estas protestantezinhas fibrosas !
Tuesday, December 30, 2003
A Carla me disse que a minha trip de "pregador no deserto" foi longe demais. Estou viajando, pois que todo o mainstream e' liberal e pro livre comercio, vide o dominio da ideologia de Chicago na maioria da (1) midia, (2) universidades e (3) governos mundo afora (para pegar uma amostra representativa das instituicoes que mais afetam e refletem o zeitgeist moderno).
(1) Aa excecao de algumas publicacoes abertamente liberais, como a "The Economist", e a "Foreign Affairs", a midia em todos os paises tende a defender os grupo economicos e interesse locais que querem a protecao dos seus privilegios e mercados reservados. Ela e' sustentada, em grande parte, por estes grupos. Aqui nos EUA, por exemplo, todos os jornais e teles fazem campanha contra a transferencia de empregos domesticos para a China e outros mercados emergentes. Ocorreu algo parecido em relacao ao Japao no seculo passado e os Japoneses passaram a ser retratados como malvados e degenerados pela midia e industria cultural.
(2) Apesar de nao termos controle sobre o sentido das palavras, nao sao "'neoliberais'" os governos que adotam responsabilidade fiscal e controle de inflacao, estes apenas aderiram a um bom-senso administrativo, que apropriadamente pode ser chamado de Consenso de Washington. Se, por outro lado, discutimos semantica, o termo pode ser valido.
(3) O fato de algumas universidades americanas serem a incubadeira de uma versao tecnocratica do liberalismo (Cons de Washington) que encontrou canais nas instituicoes internacionais (Banco Mundial e FMI principalmente), tambem nao e a prova do dominio da ideologia liberal nos EUA e no mundo.
Primeiro porque a ideologia liberal nao tem forca dentro do governo americano, quem financia os organismos internacionais. A atual administracao pratica um neorealismo politico. Os reflexos disso no cenario internacional fazem com que Bush seja considerado inimigo do livre-comercio pela "Economist".
Segundo, porque esta nao e uma ideologia dominante na universidade americana. Admito a influencia, consideravel, que a universidade americana tem sobre o pensamento ocidental. Sao as melhores, mais internacionais e mais prolificas instituicoes do mundo. Mas estas instituicoes tambem abrigam o nucleo duro da esquerda culturalista e marxista contemporaneas, tendo o MIT, entre seus quadros, o popular Noam Chomski.
Um teste para os amigos :
De quem e' a autoria deste fragmento abaixo ?
"Basta que um povo de mentalidade estreita seja confirmado na sua ilusão materialista por uma filosofia mesquinha que tudo explique pelas causas econômicas. Acreditando que precisa resolver seus problemas materiais antes de cuidar do espírito, esse povo permanecerá rasteiro e nunca se tornará inteligente o bastante para acumular o capital cultural necessário à solução daqueles problemas."
(a) Marco Aurelio Garcia
(b) Luis Fernando Verissimo
(c) Marilena Chaui
(d) Olavo de Carvalho
O texto continua. Mais uma chance.
"... que a língua, a religião e a cultura vêm primeiro, a prosperidade depois... Escolhendo o imediato e o material acima de tudo, os brasileiros estreitam seu horizonte de consciência e estao condenados à ruína."
Quem nao escolheu a ultima alternativa pode entender o erro como fruto da confusao ideologica em que fomos educados. Achei uma boa oportunidade para mostrar de novo que as nocoes de esquerda e direita que aduzimos da "sabedoria convencional" sao ruins. O texto do Olavo, este fascistoide carola, mostra a afinidade de ideias entre esquerda e direita culturalistas. Aqui nos EUA a direita culturalista esta por cima, aliada aa Southern Baptist Congregation, provendo o suporte ideologico ao militarismo e isoloacionismo do governo Bush detonando o livre comercio.
A administracao Bush nao tem sido nem um pouco liberal em suas acoes, apesar do ideal pacifista e internacionalista Wilsoniano (Woodrow) nao emudecer na duracao de mais um governo. Os falcoes e os ideologos (que "fazem a cabeca dos primeiros) tem uma "bildung" culturalista. Todos levam a serio a nocao de choque de civilizacoes e varios deles acreditam nos perigos da dissolucao da "civilizacao luterana" em meio a grande quantidade de (em ordem logica) recursos materiais, humanos e de conhecimento que este pais vem absorvendo desde o inicio do seculo passado.
Saturday, December 27, 2003
Ainda estou em Asheville, cidade natal do cronista popular O'Henry, do novelista Thomas Wolfe (nao confundir com o Tom Wolfe do bestseller "Fogueira das vaidades") e dos pais da Meri.
http://www.goasheville.com/photoalbum.html
Sunday, December 21, 2003
Estou partindo para Asheville, Carolina do Norte, entao fico uns dias sem escrever no blog. Mas ja vou avisando que vou incluir comentarios publicaveis que os amigos tem me mandado, com replicas minhas sobre alguns topicos.
Abracos afetuosos e boa festanca para todo mundo !
Por ultimo, deixo o linque para um artigo excelente do Fernando Henrique. Nao deixem de ler !
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/fhc.asp
Friday, December 12, 2003
Agora, minha maior preocupacao em relacao ao governo Lula e' a politica externa. Assim como a viagem anterior a Cuba, a provocacao aos EUA na recente viagem do Lula ao Oriente Medio foi olimpicamente ignorada aqui na corte. Restam as imagens do nosso estadista incensando ditadores de países de segunda linha.
Lula em viagem e' como aquele aquele anaozinho de jardim do filme "Amelie Poulain" que aparece em diferentes cartoes postais pelo mundo. Quem vem planejando as viajens rebeldes do anaozinho e' o grupo que aumentou seu poder no Itamarati depois da vitoria do PT, o dos "fidalgos revolucionarios" Marco Aurelio Garcia e Samuel Pinheiro Guimaraes.
O nucleo da politica externa que orientou todas as administracoes de 100 anos para ca foi fundido no Itamaraty. E importante distinguir que o Itamaraty e' estado, Lula, mais uma administracao. O trabalhismo Petista e o fidalguismo revolucionario Itamarataca confluiram neste governo revigorando a estrategia do "terceiromundismo" (que vem la da decada de 60) nas relacoes internacionais. E a prororoca ideologica que estende a luta de classes 'as relacoes entre as nacoes vai ganhando momento ate que, espadas em riste ! ... desfaz-se nas margens do rio das bravatas.
O ex-Chanceler Celso Lafer andou dando uma entrevista muito boa, criticando a linha atual da politica externa brasieira em que diz algo muito parecido ao que eu venho martelando neste blog (ver comentario anterior que tem extratos do Marx).
"Se o governo Lula transpuser para a política externa sua visão sindicalista de operário versus patrão, acho que há o risco de complicar a vida. O cenário internacional é um pouco mais complexo, mais diversificado e mais pluralista que isto." Para ele, "essa visita, como foi montada, é no mínimo discutível. O que o Brasil ganha com uma visita presidencial a Líbia e a Síria?", perguntou, para acrescentar: "Eu não consigo identificar. Do ponto de vista econômico, é claro que temos que criar oportunidades. Mas para fazer isso não precisa de uma viagem presidencial, que tem um componente simbólico. Tem o ministro do Desenvolvimento, que faz isso há muito tempo. Fazer essa viagem no primeiro ano de governo, quando se está definindo seu campo, é um equívoco de prioridade. Se eu fosse o presidente iria primeiro à China e Índia".
link para a entrevista na integra:
http://txt.estado.com.br/editorias/2003/12/10/pol024.html
Wednesday, December 10, 2003
E incrivel, mas foi confirmado atraves da imprensa: 93% dos municipios apresentam irregularidades em suas contas. Estima-se, conservadoramente, que os recursos desviados dos cofres publicos administrados pelos alcaides brasileiros alcancem R$ 60 bilhoes. Isso significa que 30% dos valores repassados pelo goveno federal terminam atnedendo a particulares e mantendo feudos de poder local. Estes dados foram divulgados recentemente pela Controladoria Geral da Uniao (CGU), depois de auditar as contas de varios municipios. Ja foram 130 municipios auditados, de um universo de mais de 5 mil municipios brasileiros.
Essa listagem refere-se a uma amostragem muito pequena, em municipios aleatoriamente sorteados. Nao inclui auditoria onde esta o grosso do dinheiro publico: nos estados e na Uniao. Sabe-se que o maior indice de desperdicio ocorre nos municipios brasileiros, principalmente os pequeninos, que aumentaram absurdamente em numero no governo Sarney, por razoes afins ao ethos deste governo do velho patriarcado. Mas o problema tambem e nos governos estaduais e, creio eu, em menor escala na administracao federal.
A lista de irregularidades e interminavel, coisas que nao espantam a mais ninguem. Ha registros da compra de viagra e ate conta de motel foi debitada no dinheiro da viuva. Obras nao concluidas e o que mais ha. Isto ja esta evidente para qualquer observador com senso critico faz tempo. Nos grandes centros urbanos brasileiros, a vista de todos, jazem inumeros "esqueletos" de obras inconclusas, como os brizoloes as margens das vias de acesso aos municipios cariocas. Brizoloes - os panteoes do populismo carioca que ainda nos assombra ! De Lacerda a Cesar Maia, de Brizola a Benedita e Garotinho temos a prova encarnada da metempsicose populista carioca. Dava para fazer uma caricatura genial com estas personalidades encarnando uma na outra num ciclo infinito como nas ilustracoes dos textos vedicos. Mas estou desviando do assunto.
Voltando a questao dos recursos publicos: o problema mostra a inconsistencia entre tantos impostos (aprox 40% do PIB) e pouco ou nenhum retorno para a populacao. O estado e um Hobin Hood ao avesso, que rouba toda sociedade, incluindo os pobres e devolve a grana as (1) corruptas elites patriarcais, a (2) populistas que usam a grana para se perpetuarem em seus nichos e (3) aos poderes judiciários e legislativos - municipais, estaduais e federal. Quem quiser pode continuar a lista ... so nao me venham com essa de que sao os gringos que nos roubam e nos mantem miseraveis ...
Monday, December 08, 2003
Quero dar parabens ao meu irmao, Ze Pedro, o responsavel direto pela identificação do gene que causa a necrose nos pés da cacau da Bahia. Ele atualmente esta no mestrado da Unicamp trabalhando com um grupo de pesquisadores ligados a um pedaco do projeto genoma no Brasil. Estou orgulhoso do Ze que tem o privilegio poder contribuir para a melhora das condicoes de vida das pessoas no mundo todo.
O Ze tambem e um exemplo de como podemos aprender conhecimentos de ponta com os gringos e aplica-los com sucesso aqui, de como o intercambio de homens e recursos e fundamental para o desenvolvimento do nosso pais. Um dia, os deuses da razao nos ajudando, talvez tenhamos a inflexao deste movimento de recursos passando a atrair gente de todas as nacoes para o Brasil.
Nao fosse o significativo contingente de vitimas da doenca do subdesenvolvimento mental, que obstruem direta e indiretamente a pesquisa e o desenvolvimento de tecnicas nesta area no Brasil, poderiamos finalmente estar embarcando em tempo na quarta revolucao do conhecimento da era moderna. A primeira, a dos engenhos a vapor, pegamos marginalmente. A segunda, da eletricidade e combustiveis fosseis, realizamos tardiamente. Alguns dos enfermos que menciono acima ainda consideram estas tecnologias "estrategicas".
Tivemos oportunidade de embarcar na ultima revolucao tecnologica, nos anos 80, mas o nacionalismo dos milicos na forma de reserva de mercado para informatica nos atrasou na revolucao das tecnologias da informacao. Nos ultimos cinco anos, ganhamos muito terreno nesta area, principalmente devido as privatizacoes no setor das telecomunicacoes que difundiram tecnologia e baixaram os custos dos insumos. O telefone, que era um bem de investimento, passou a ser um bem de uso. Algem se lembra da epoca em que nossos pais compravam um telefone ao preco de um carro e do mercado secundario criado em torno da compra e venda de linhas ?
O Brasil, em um curto espaco de tempo, passou a ser o decimo pais em numero de usuarios de internete no mundo, um pouo atras da Franca e a frente da Espanha. A conta do telefone esta mais cara hoje em dia. Mas quem disse que o estado tem que subsidiar tarifas baixas para o pequeno percentual da populacao rico o suficiente para adquirir um bem inacessivel a maioria. Bom estou embicando para uma outra discussao, estou cansado entao vou parar por aqui hoje.
Thursday, December 04, 2003
Hoje a noite os tetos estao cobertos com um tapete de neve e o ceu todo alaranjado como se uma fogueira gigante queimasse o alem mundo. Por volta da meia noite, deitado de brucos na minha toca de cobertas com a cabeca virada pra janela, os pontos de luz vermelha no topo das antenas transmissoras sao minha derradeira realidade.
Andre Cony faz a primeira resenha sobre um dos contos do Pacato:
"(...) o conto "DasNights" de um tal de Henrique Santos, vulgo Pakkato, é digno de publicação ! Relata uma balada que começa na Galeria Alaska e termina quase na delegacia, os personagens são incríveis inspirações dos nossos irmãos, Carlos French (Charles), seu irmão Tony (Tonhão), Johnny Boy (vc seu verme), Migas (deve ser o Miguel) e Julien por ele mesmo !"
para ler mais Pakkatto va ao site do vagabundo sagrado la nos links do fim da pagina
Acabei de incluir entre os links no fim da pagina um para o site do camarazao e capoeirista Pedro Gatuno
O Pedro fincou seu enclave em Endimburgo, Escocia e esta divulgando o Brasil atraves da arte da capoeira. Um Gatuno empreendedor vale mil burocratas do Itamarati ou da Embratur, vale 100 cineastas publicitarios adeptos da esteticadamiseriapragringover. O que o Pedro, assim como o Daniel MV fazem pelo Brasil e dificil de mensurar mas muito valioso.
Wednesday, December 03, 2003
Visitem o lindo e muito engracado site/portfolio do Dani \/alente, ou Daniel MV, como ele agora quer ser chamado.
O link esta no fim da pagina
E' recorrente a confusao entre "laissez faire" e o liberalismo economico. Ontem vendo o Programa do Jo na Globo, que temos aqui na casa do meu anfitriao e locatario brasileiro, o "Rasputin" do governo Lula, Ze' Dirceu, enunciava novamente a confusao :
- Esta estoria de dizer que o mercado resolve tudo e bobagem !
Bom, vamos la ! Professor Hayek (muito castigado sem ser jamais lido) tenta explicar. Os grifos abaixo sao meus.
" It is important not to confuse opposition against this kind of planning (planejamento central) with a dogmatic laissez-faire attitude. The liberal argument is in favor of making the best possible use of the forces of competition as a means of coordinating human efforts, not an argument for leaving things just as they are. It is based on the conviction that, where effective competition can be created, it is a better way of guiding individual efforts than any other. It does not deny, but even emphasizes, that, in order that competition should work beneficially, a carefully thought-out legal framework is required and that neither the existing nor the past legal rules are free from grave defects. Nor does it deny that, where it is impossible to create the conditions necessary to make competition effective, we must resort to other methods of guiding economic activity. Economic liberalism is opposed, however, to competition's being supplanted by inferior methods of coordinating individual efforts. And it regards competition as superior not only because it is in most circumstances the most efficient method known but even more because it is the only method by which our activities can be adjusted to each other without coercive or arbitrary intervention of authority. Indeed, one of the main arguments in favor of competition is that it dispenses with the need for "conscious social control" and that it gives the individuals a chance to decide whether the prospects of a particular occupation are sufficient to compensate for the disadvantages and risks connected with it."
"(...) The successful use of competition as the principle of social organization precludes certain types of coercive interference with economic life, but it admits of others which sometimes may very considerably assist its work and even requires certain kinds of government action. But there is good reason why the negative requirements, the points where coercion must not be used, have been particularly stressed. (...) It is regrettable, though not difficult to explain, that in the past much less attention has been given to the positive requirements of a successful working of the competitive system than to these negative points. The functioning of a competition not only requires adequate organization of certain institutions like money, markets, and channels of information -- some of which can never be adequately provided by private enterprise -- but it depends, above all, on the existence of an appropriate legal system, a legal system designed both to preserve competition and to make it operate as beneficially as possible. (...) In no system that could be rationally defended would the state just do nothing. An effective competitive system needs an intelligently designed and continuously adjusted legal framework as much as any other. Even the most essential prerequisite of its proper functioning, the prevention of fraud and deception (including exploitation of ignorance), provides a great and by no means yet fully accomplished object of legislative activity. "
Humm... o Ze Dirceu tem defendido o estado de direito em varias declaracoes publicas. Que esquizofrenia e esta ? ? ?
Faco questao de colar mais um extrato do "Manifesto" de Marx & Engels, que nao conseguem esconder o espanto e reverencia (shock and awe) diante do "prometeu desacorrentado", o bicho solto do capitalismo no seculo XIX. Ao contrario de outros textos, como o 18 Brumario, Marx nao foi longe no argumento hegeliano de que as conquistas de um modo de producao sao a causa dos seus problemas mais adiante. Segundo o Marx sociologo de outros textos, as contradicoes, choques e a emergencia de crises (ciclicas) no capitalismo levam a novos estagios de acumulacao. No Manifesto, o Marx profeta termina dizendo que as contradicoes se acumulam e que a crise sistemica e inevitavel. Nao ocorreu e e' pouco provavel que va ocorrer, basta observar a capacidade de adaptacao do capitalismo 'as crises passadas. Mas a descricao do processo de acumulacao burgues e seus desdobramentos no Manifesto sao belas, poderosas e iconoclasticas. Os parenteses abaixo sao meus.
" The bourgeoisie has through its exploitation of the world-market given a cosmopolitan character to production and consumption in every country. To the great chagrin of Reactionists (!) it has drawn from under the feet of industry the national ground on which it stood. All old-established industries have been destroyed or are daily being destroyed. (...) In place of the old local and national seclusion and self-sufficiency, we have intercourse in every direction (!), universal interdependence of nations. And as in material, so also in intellectual production. The intellectual creations of individual nations (tend to) become common property (in the long run). National one-sidedness and narrow-mindedness become more and more impossible, and from the numerous national and local literatures, there arise a world literature. (...) by rapid improvement of all instruments of production, by the immense facilitated means of communication it (o Kapitalismo) draws all, even the most barbarian, nations into civilization. The cheap prices of its commodities are the heavy artillery with which it batters down all walls, which it forces the barbaric obstinate hatred of foreigners (!) to capitulate."
Me pergunto, sera que a esquerda antiglobalizante leu mesmo os textos mais acessiveis de Marx ? Sera que eles entenderam alguma coisa e aproveitaram so o que lhes conveio ou estao adaptando preguicosamente um borrao da luta de classes para o cenario global ?
Este trechinho abaixo e dedicado aos defensores da reforma agraria e do modo de vida agro-pastoril (meu grifo, claro) :
" The bourgeoisie has subjected the country to the rule of the towns. It has created enormous cities, greatly increased the urban population compared with the rural, AND HAS THUS RESCUED A CONSIDERABLE PART OF THE POPULATION FROM THE IDIOCY OF THE RURAL LIFE."
Mais Marx e o Manifesto
Tuesday, December 02, 2003
Noite com lua gelada depois de um dia de azul frio na capital do imperio.
Me encontro preso na megalopolis da costa leste americana - a maior mancha de luz humana na terra. Uma mancha luminosa que pode ser vista do espaco, mas que embaca a luz das estrelas aos megalopolitanos. Estou me acostumando 'as luzes artificiais, estou refazendo um novo ciclo cotidiano de imagens: neons romanticos travestindo o asfalto liso na chuva de gelo, focos verdes bolinados pelos vapores dos bares subterraneos, amarelos e azuis que piscam nas janelas sempre vazias de gente.
Sunday, November 30, 2003
Um dos Microcontos de Joao Gilberto N.
Quando passava por aquele
desenho no muro, eu disfarçava,
me socorria. Até que um dia não
consegui me desvencilhar de
suas vorazes artérias. Fiquei ali,
semseqüência, restrito aincontáveis
súbitos. Sob a crista já gangrenada
de minha própria guarda.
Abriguei-me na lanchonete, fingindo
estudar para as provas. Eu ouvia as conversas
dos conhecidos, tentando esquecer
a eletricidade maníaca do devaneio rupestre.
Até que me internaram no sanatório da Paz,
ali. Agora rondo pelas cercanias,
para ver se consigomespiar.
Wednesday, November 26, 2003
visitem o blog do Pacato:
pakkatto.blogspot.com
o Henrique tambem tem um site que esta listado abaixo, nos meus links
quem o conhece da UFRJ talvez se encontre em um de seus contos inspirados nos "anos sujinhos"
Tuesday, March 19, 2002
Gosto desta declaracao do Jack Valenti (presidente da Motion Pictures Association dos EUA)
"I learned to respect audiences. In Washington and Hollywood there are too many otherwise seriously educated folks who, in the manner of Druid priests, truly believe they are the repositories of all wisdom. They gaze with scarcely disguised contempt upon the unlearned rabble that lives Out There, ... As the grandson of Italian immigrants, I always counted myself as part of the rabble, which is why I am in constant opposition to that point of view."
Friday, March 01, 2002
Estremeço, meço, meço
Abrem alas no passeio
Furando meu olho seco,
os gêmeos de bico vermelho
Alça moça em seda branca
Dois airbags troianos,
palpitando em pura lana
Samba silicone satãnica,
Sambando no passeio pudico
Que o meu coração se derrama !
Wednesday, January 30, 2002
Um dos melhores elogios do capitalismo foi Marx quem escreveu no "Manifesto", em 1848
"Constant revolutionizing of production, uninterrupted disturbance of all social relations, everlasting uncertainty and agitation, distinguish the modern times from all erlier ones. All fixed fast frozen relationships, with their train of venerable ideas and opinions are swept away, all new formed ones become obsolete before they can ossify." KM
Marx libertario no manifesto :
"We shall have an association in which the free development of each is the condition of the free development of all."
Referencias:
Alguns dos melhores comentarios sobre Marx estao
(1) nos tres primeiros capitulos de "Capitalismo, socialismo e democracia" de Joseph Schumpeter;
(2) no "A miseria do historicismo" de Karl Popper;
(3) no "Tudo que e solido se desmancha no ar" de Marshall Berman.
